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Meus Irmãos

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domingo, 2 de janeiro de 2011

Um Minuto Apenas




            Lúcia era uma mulher feliz.

            Como poucas, acreditava.

            Casada com o homem por quem se apaixonara nos verdes anos da adolescência, vivia o sonho da mulher realizada.

            Um filho lhe viera coroar a felicidade.

           Que mais ela poderia desejar?

           Acordava pela manhã e saudava o dia cantarolando.

           Com alegria realizava as tarefas do lar, cuidava do filho, aguardava o marido.

           Tudo ia muito bem.

           Até o dia em que descobriu que o homem que tanto amava, a traía.

           E não era de agora.

           O problema vinha tomando corpo de algum tempo.

           Magoada, se dirigiu ao marido.

           Exigiu-lhe e falou-lhe de respeito.

           A resposta foi brutal, violenta.

           O homem encantador tornou-se raivoso, briguento.

           Chegou a lhe bater.

           Foi nesse dia que Lúcia teve a certeza de que seu casamento acabara.

           Era o cúmulo.

           Não poderia prosseguir a viver com alguém que chegara à agressão física.

           Então, acordou na manhã de tristeza, depois de uma noite de angústia e tomou uma séria decisão.

           Iria se matar.

          Acabar com a própria vida.

          Mais do que isto.

          Ela desejava vingança.

          Por isto, tomou o filho de 4 anos pela mão e decidiu que o mataria.

          Queria que o marido ficasse com drama de consciência.

          Seu destino era o Farol da Barra, na cidade de Salvador, na Bahia, onde residia.

          Ela sabia que era um local onde o mar batia com violência no penhasco.

          A rua por onde transitava era movimentada.

          Muitos carros.

          Enquanto aguardava para atravessar a rua, a criança lhe escapou das mãos e correu, entre os carros.

          Ela se desesperou.

          Estranho paradoxo.

          Conduzia a criança pela mão e tencionava jogá-la do penhasco ao mar para que morresse.

           Mas, quando a vê correr perigo, esquecida de si mesma, vai-lhe ao encontro, agarra-a, até um pouco raivosa.

           Puxa-­a pela mão.

           Neste momento, a criança se abaixa, alheia a tudo que se passava, e recolhe do chão um papel.

           Lúcia o arranca das mãos do pequeno e um título, em letras grandes, lhe chama a atenção:

           Um minuto apenas.

           Ela lê:

           Num minuto apenas, a tormenta acalma, a dor passa, o ausente chega.

           O dinheiro muda de mão, o amor parte, a vida muda.

           Vai andando, puxando a criança e lendo a página.

           Era uma página mediúnica que vinha assinada por um Espírito.

           Ela terminou de ler.

           Passou o ímpeto.

           Em um minuto.

           Parou, olhou ao redor e verificou que tinha chegado ao seu destino.

          O penhasco estava próximo.

          Sentou-se e teve uma crise de choro.

          O impulso de se matar havia desaparecido.

          Tornou a ler a mensagem.

          Ela se recordou de um senhor que era espírita e trabalhava no Banco, no mesmo onde seu marido trabalhava.

          Foi para casa. Lembrou que um dia, jantando em casa dele, ele falara algo sobre Espiritismo.

          Algo que ela e o marido, por terem outra formação religiosa, rechaçaram de imediato.

          Ela lhe telefonou, pediu-lhe orientação e ele a encaminhou a um Centro Espírita.

          Atendida por companheiro dedicado, que lhe ouviu os gritos da alma aflita, passou a buscar na oração sincera, na leitura nobre, no passe reconfortante, as necessárias forças para superar a crise.

          O marido, notando-lhe a mudança, a calma, no transcorrer dos dias, a seguiu em uma das suas saídas do lar.

          Desconfiado, adentrou ele também à Casa Espírita.

          Para descobrir uma fonte de consolo e esclarecimento.

          Hoje, ambos trabalham na Seara Espírita. Reconstituíram sua vida, refizeram-se.

          Os anos rolaram.

          O garoto é um adolescente e mais dois filhos se somaram a ele.

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           Mudança de rumo.

           A vida muda.

           Em um minuto apenas.

           Em um minuto apenas Deus providencia o socorro.

           Pode ser um coração atento, uma mão amiga ou um pedaço de papel impresso caído na calçada.

           Papel que o vento não levou para longe.
 

           Um minuto apenas e o amor volta.

           A esperança renasce.

           Um minuto apenas e o sol rompe as nuvens, clareando tudo.

           Não se desespere.

           Espere.

           Um minuto apenas.

           O socorro chega.

           O panorama se modifica.

           A vida refloresce.

           Tenha paciência.

           Não se entregue à desesperança.

           Aguarde.

           Enquanto você sofre, Deus providencia o auxílio.

           Aguarde.

           Um minuto apenas.

           Sessenta segundos.

           Uma vida.

           Um minuto a mais...

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            Em um minuto apenas, a Misericórdia Divina se derrama, cheia de bênçãos, nas vielas escuras dos passos humanos.

            Corrige, saneia, repara, transformando-as em estradas luminosas no rumo da vida maior.


Redação do Momento Espírita, com base no cap. 24 do livro O semeador de estrelas, de Suely Caldas Schubert, ed. Leal.


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