Houve um triste tempo
em nosso país onde os negros trazidos à força da África sofriam com a saudade
de seus lares, parentes e amigos. Obrigados a uma rotina de maus tratos
torturante sentiam falta de seus ritos tradicionais com danças, cantos e
louvores aos orixás de sua terra.
Ao observarem a fé de
seus senhores totalmente direcionada aos cultos católicos, os negros passaram a
disfarçar seus hábitos religiosos usando os santos da igreja como “sombra” para
seus deuses.
Colocavam imagens
católicas no meio de suas rodas e louvavam durante a noite as suas divindades,
sempre dizendo aos feitores que era o jeito africano de homenagear os santos de
seus senhores. Estes, por sua vez, estranhavam os batuques e os cantos em
linguagem indecifrável, o que fazia tudo parecer feitiçaria, mas ficavam
tranqüilizados ao saberem que eram festas para os santos católicos, chegando,
às vezes, a freqüentar as rodas religiosas.
Desse pequeno embuste
surgiu a tradição do uso de imagens católicas para identificar os santos de
Umbanda e Candomblé, o que na realidade não existe. Claro está que hoje esse
sincretismo deixou de ser necessário, mas os pais no santo admitem que ao se
ter uma imagem para direcionar suas preces e pedidos, os filhos sentem-se mais
a vontade, pois os orixás são forças da natureza, energia vibrante do vento, da
chuva, do fogo e assim por diante.
Como relacionar
nossas orações a essas energias sem uma imagem que as torne mais “palpáveis”?
Temos também um
problema relacionado a isso que é a falta de imagens umbandistas para os santos
de nossa fé, com exceção feita a Iemanjá, que todo o povo já relaciona à bela
imagem da moça vestida de azul. Os outros orixás não têm uma imagem para ser
colocada em nossos congás, portanto, continuamos a colocar em nossos altares os
santos católicos e confiamos, sim, neles e nos orixás que sabemos não ter essa
representação.
Hoje existem vários
terreiros que exibem em suas casas imagens dos santos do Candomblé. É errado?
Não. Tudo vale desde que haja o respeito e a fé necessários para um bom
trabalho.
Que as mentes estejam
direcionadas para a energia que o congá nos transmite e eleve nossos pedidos e
pensamentos até o Pai celestial e que os santos, católicos ou não, nos ajudem
como mensageiros Dele, que na verdade os são.
Respeitemos então o
sincretismo como tradição que devemos aceitar e resguardar para o futuro de
nossa religião. A Umbanda é um celeiro de fé e nela cabem todas as espécies de
crenças que possam nos levar ao objetivo maior de amor e caridade pregado pelas
nossas entidades.
Fonte:
Luiz Carlos Pereira
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