Após a transfiguração, quando Jesus ia em direção à Jerusalém, pelo caminho viu um moço e pediu-lhe que o seguisse. O moço respondeu que iria, mas que primeiro precisava enterrar seu pai, que havia morrido. Jesus retruca ao moço que ele deveria deixar os mortos enterrar os seus mortos e recomendou-lhe que fosse anunciar o Reino de Deus.
Para muitos, isso é um absurdo, e Jesus não teria tido esse diálogo, narrado em Mateus e Lucas. Estariam então errados os evangelistas? O Espiritismo tem uma posição a respeito, que pode, inclusive, ser encontrada no Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XXIII, intitulado Moral Estranha, nos itens 7 e 8.
Com relação ao tema, é importante atentarmos para o fato de que Jesus não quis dizer que devemos deixar os cadáveres sem sepultura, mas desejou, como sempre, deixar um ensinamento. Por isso, suas palavras têm um sentido mais profundo. Jesus falou em mortos, não em cadáveres, e recomendou a divulgação do Reino de Deus, que é a vida eterna, a vida do espírito, pois a vida na matéria é temporária e serve como etapa para nossa evolução, nosso crescimento espiritual.
Ainda hoje, para todos nós, é difícil vivermos em conformidade com essa crença, pois agimos em nosso dia-a-dia como se tudo acabasse aqui e como se somente a matéria e a vida material tivessem sentido! Sabemo-nos imortais, mas agimos como mortais!
Foi com relação a isso, o alerta de Jesus. Na verdade, ele dividiu a Humanidade em dois grupos: os mortos para a vida espiritual e os vivos para a vida espiritual.
Os mortos para a vida espiritual são como almas mortas em corpos vivos, ou seja, espíritos sem fé, sem esperança no futuro, pobres de sentimento nobres e de virtudes. Para esse grupo, o dia da morte é o fim, é o dia da condenação, da tomada de contato com algo que desconhece e com um momento para o qual não se preparou. Para os vivos, a morte do corpo é a libertação do espírito.
Para os mortos para a vida espiritual, os cerimoniais e as homenagens têm fundamental importância. Esses guardam os objetos que pertenceram aos outros como relíquias, como um “pedaço” daquele que se foi.
Jesus não criticou essa postura que, aliás, até hoje é seguida pela Humanidade, mas ressaltou e recomendou a necessidade de vivermos e valorizarmos a vida do espírito, deixando de nos inquietar com o corpo e as coisas materiais. Além disso, recomendou a divulgação do Reino de Deus, ou seja, que digamos aos outros e demonstremos que a nossa verdadeira pátria não se encontra na Terra, no Plano Material, mas no Plano Espiritual, onde se vive a verdadeira vida.
No dia de hoje, essas palavras de Jesus são muito atuais, ainda, e o Dia de Finados é um exemplo, provando o quanto ainda somos ligados às coisas da matéria, em vez de nos ligarmos às coisas do espírito.
Atenção! Isso não significa que o Espiritismo condena as cerimônias fúnebres ou as visitas aos cemitérios. Para muitos isso ainda é fundamental!
O Espiritismo, mostrando a atualidade dos ensinamentos de Jesus, alerta-nos sobre a importância de cada dia mais nos ligarmos às coisas do espírito, ressaltando que o respeito aos mortos está muito além das cerimônias e das visitas do Dia de Finados. O respeito e as honras estão em nossa postura cotidiana, naquilo que fazemos pelo próximo e na forma como falamos dos que já abandonaram esta roupagem terrestre. De que adianta no Dia de Finados irmos ao cemitério, levarmos flores, se no dia-a-dia falamos mal desse que se foi? Isso é respeito?
Só há uma forma de mostrarmos o nosso respeito: é exercitando o amar ao próximo! Quando aprendermos a amar incondicionalmente, teremos nos desligado das coisas materiais. A partir daí, o enterrar nossos mortos será apenas um ato higiênico, de enterrar cadáveres, que são carne sem vida, e de respeito por um corpo que ajudou um espírito em sua evolução e que agora será desagregado e por isso dispensa cultos e homenagens, pois na essência, que é o espírito, a vida não cessou.
Para a Doutrina Espírita, a morte é uma separação temporária, e a forma ideal de se demonstrar saudades e respeito é com preces fervorosas e bons pensamentos, sem datas marcadas. Essas ações vibram no espaço e levam reconforto até os que deixaram o plano material pela certeza de que não foram esquecidos. Não será também essa uma forma de cumprir a recomendação de Jesus e anunciar o Reino de Deus?
Se ainda temos necessidade de homenagear nossos mortos da forma tradicional, não há problemas, mas vamos procurar mesclar as coisas. Se já não pensamos assim, mas se nossos mortos e outros ainda encarnados necessitam desse tipo de homenagem, vamos respeitá-los, mas sempre procurando mostrar a eles, pelas nossas ações, que a vida material é passageira e que os bens do espírito é que são eternos e devem ser cultivados.
Oremos pelos que se foram, não só amanhã, mas sempre, mas oremos, também, pelos mortos em espírito, para que eles despertem e passem a se dedicar à vida que realmente vale a pena.
Por: Kátia Penteado
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