“Bem-aventurados os que não viram e creram.” (João 20:29)
Expusemos, na postagem “A Fé”, que a ciência necessita de atos de fé
para validar premissas matemáticas cuja consistência não pode ser provada. Para
nos entendermos como parte da Criação; para concluirmos que, tal como o
Universo, evoluímos indefinidamente, também necessitamos da mesma fé, baseada
na lógica.
A hipótese de que somos apenas uma máquina eletroquímica, formada por
átomos organizados ao acaso; e a idéia de que, quando nascemos, viemos do nada
e, ao morrer nosso corpo, deixaremos completamente de existir, são crença
fervorosa de quem temporariamente se identifica com o materialismo. Uma das
razões expostas para defender essa visão de mundo é que Deus, Jesus ou os
Espíritos não se materializam à sua frente para lhes “provar” que existem. Mas,
é realmente isso o que devemos aguardar acontecer para passarmos a acreditar em
uma Inteligência infinitamente sábia e benévola a transformar o caos do “Big
Bang” no Universo perfeitamente organizado que a Ciência constata? Seria mesmo
a aparição de um Espírito, ou um conjunto de “milagres”, o melhor requisito
para deixarmos de ver lógica em o acaso ser o responsável por toda a ordem
reinante no Universo e na formação de organismos complexos como o nosso corpo
físico?
Precisamos de fé para entender que um mais um somam dois, para seguirmos
adiante no entendimento da lógica matemática. Também precisamos de fé para
entendermos que a vida encarnada não é uma só, pois jamais conseguiríamos
aprender tudo que há de lições neste Planeta, mesmo sendo a pessoa mais sábia e
longeva. E a fé nos permitirá também entender que Deus é infinitamente justo e
bom; ama a todos nós, independente de nosso estado evolutivo, pois as Leis infinitamente
perfeitas, criadas por Ele, nos impelem à evolução nos campos moral e
intelectual, um processo constante e inevitável. Dessa forma, termos nascido e
possuirmos desafios e dificuldades a enfrentar passam a fazer sentido: são
etapas de aprendizado a superar, seguidas por mais lições para nossa infinita
evolução.
Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, propôs à
Espiritualidade Superior um questionamento nesse sentido [1]:
“Visto que o Espiritismo tem que marcar um progresso da Humanidade, por
que não apressam os Espíritos esse progresso, por meio de manifestações tão
generalizadas e patentes, que a convicção penetre até nos mais incrédulos?”
O educador Lionês obteve a seguinte resposta:
“Desejaríeis milagres; mas, Deus os espalha a mancheias diante dos
vossos passos e, no entanto, ainda há homens que o negam. Conseguiu,
porventura, o próprio Cristo convencer os seus contemporâneos, mediante os
prodígios que operou? Não conheceis presentemente alguns que negam os fatos
mais patentes, ocorridos às suas vistas? Não há os que dizem que não
acreditariam, mesmo que vissem? Não; não é por meio de prodígios que Deus quer
encaminhar os homens. Em sua bondade, ele lhes deixa o mérito de se convencerem
pela razão.” [1]
Na obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Kardec pondera nos
seguintes termos:
“Alguns incrédulos se admiram de que os Espíritos tão poucos esforços
façam para os convencer. A razão está em que estes últimos cuidam
preferentemente dos que procuram, de boa-fé e com humildade, a luz, do que
daqueles que se supõem na posse de toda a luz e imaginam, talvez, que Deus
deveria dar-se por muito feliz em atraí-los a si, provando-lhes a sua
existência.
(...) A esses não quer Deus abrir à força os olhos, dado que lhes
apraz tê-los fechados.
(...) Perguntar-se-á: não poderia Deus tocá-los pessoalmente, por meio
de manifestações retumbantes, diante das quais se inclinassem os mais
obstinados incrédulos? É fora de toda dúvida que o poderia; mas, então, que
mérito teriam eles e, ao demais, de que serviria? Não se vêem todos os dias
criaturas que não cedem nem à evidência, chegando até a dizer: “Ainda que eu
visse, não acreditaria, porque sei que é impossível?” Esses, se se negam
assim a reconhecer a verdade, é que ainda não trazem maduro o espírito para
compreendê-la, nem o coração para senti-la. (...) Deus primeiramente corrige o
orgulho. Ele não deixa ao abandono aqueles de seus filhos que se acham
perdidos, porquanto sabe que cedo ou tarde os olhos se lhes abrirão. Quer,
porém, que isso se dê de moto-próprio, quando, vencidos pelos tormentos da
incredulidade, eles venham de si mesmos lançar-se-lhe nos braços e pedir-lhe
perdão, quais filhos pródigos.” [2]
Somos parte da Criação Divina. Essa constatação é motivo de grande
alegria e elevação de nossa auto-estima, e razão para, todos os dias de nossas vidas,
agradecermos a Deus por essa dádiva. Crer que a existência de Deus nos rebaixa,
por termos um Ser superior, é indício de o orgulho falar por nós; e o orgulho
não é um bom conselheiro.
Por Carla e Hendrio
Referências:
[1] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed.
Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 802.
[2] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo VII
(“Bem-Aventurados os Pobres de Espírito”), itens 9 e 10.
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