A UMBANDA PREPARANDO O CAMINHO PARA A ETERNIDADE
Vamos a opinião abalizada de um estudioso dos problemas da alma, da vida material e espiritual, o Dr Aníbal Vaz de Melo, na magnífica página intitulada “O Caminho”, de seu livro “O Evangelho à Luz da Astrologia”, a fim de aplicarmos esse precioso esclarecimento, em nossas vidas, mormente como umbandistas:
Na verdade o caminho que nos conduz ao Mestre é difícil de ser trilhado. Difícil e doloroso. Muitos acreditam que seja preciso uma viagem ao Tibet misterioso para o aprendizado necessário. Puro engano! O caminho não está em determinadas regiões da Terra, fora do alcance comum e das possibilidades humanas. O peregrino encontrará o seu sendeiro na mesma cidade e lugar onde o destino o colocou.
As provas de experimentações impostas aos candidatos ao noviciado espiritual não se encontram também nos cerimoniais complicados e fossilizados de várias lojas e seitas religiosas, mas apenas na percepção dos pequenos lances da vida quotidiana nas renúncias diárias de coisas que aparentemente parecem úteis e imprescindíveis, mas que na realidade pouco significa. O que importa ao caminhante é saber aproveitar as experiências e as esplêndidas lições do agora, porque é neste efêmero que está à plenitude da Eternidade, e neste agora que está a Vida, que também é eterno presente.
O caminho que nos conduz ao encontro do Cristo interno é uma via interior; profundamente interior. É uma espiral em ascensão para o infinito. É um caminho doloroso e difícil, já o dissemos. Está também cheio de renúncias... Mas o Peregrino tem, contudo, as suas compensações: enquanto os pés sangram na escalada dolorosa da montanha, feridos pelas pedras e pelas urzes das estradas, os olhos do caminheiro vão contemplando novas e mais belas paisagens, novas e mais belas perspectivas de horizontes infinitos, novas e mais deslumbrantes iluminuras de poentes e de alvoradas...
É assim que caminhamos para mais perto do azul e das estrelas, para mais perto de Deus. A vista do Espírito através dos olhos da carne vai contemplando novas claridades, e só muito alto, no píncaro da montanha é que eles defrontam a vastidão imensurável, a vastidão maravilhosa das coisas infinitas... E o caminhante ao defrontar este panorama soberbo, amplo, permeado de luz, indefinido, sente-se extático e fica com a alma de joelhos na volúpia da contemplação... É a visão maravilhosa... A visão Suprema, a visão sem formas, o Pensamento incriado... É a luz transcendente... É Deus!
“Eu sou o Caminho da Verdade e da Vida; ninguém vai ao Pai senão por mim”!
É Jesus que nos orienta. É preciso incorporar à nossa vida o Evangelho do Mestre.
O Evangelho é essa chave perdida que alguns “magos” andam procurando pelo Tibet, pela Índia, pelo Egito, pela China, por Lemúria, pela Atlântida. E, afinal, não conseguem encontrar o caminho dos “passos perdidos”. É que a tal chave está conosco mesmo, em cada um de nós. Está com todos aqueles que queiram seguir a Jesus e fazer a vontade do Pai. Não há fórmulas cabalísticas ou de magia que façam você ser feliz ou afortunado, se você não se colocar dentro da faixa vibratória do merecimento e fizer por onde. Você é que tem as chaves do reino e só você poderá fazer uso delas.
Então se ponha em condições, cada dia, de fazer penetrar essas chaves em seu próprio reinado, no mundo da sua consciência e o fim será maravilhoso. Prepararmo-nos para o futuro e para a eternidade, deve ser a nossa mais ardente preocupação. Mas nunca pelo aniquilamento do próximo, do nosso irmão, ou com processos escusos de matar animais.
O Evangelho, repetimos, está de braços abertos aguardando a nossa chegada. É o amigo sempre presente; faça amizade com ele e terá encontrado o caminho que você procura. O Espiritualismo de Umbanda está aí para proporcionar Luz e Amor no entendimento e no coração dos filhos de Deus e não para promover demandas, nem atiçar a fogueira do ódio, da vingança, das represálias. Não! “A melhor maneira de se extinguir o fogo é recusar-lhe combustível. A fraternidade operante será sempre o remédio eficaz, ante as perturbações dessa natureza. Por isso mesmo o Cristo aconselhava o amor aos adversários, o auxilio aos que nos perseguem e a oração pelos que nos caluniam, como atitudes indispensáveis à garantia da nossa paz e da nossa vitória”. – Citado por André Luiz em “Nos Domínios da Mediunidade”.
(Trecho extraído do livro: “Umbanda Cristã e Brasileira – Jota Alves de Oliveira”)
O objetivo central deste estudo é enaltecer os esforços constantes de evangelização das criaturas. Para que possamos atingir tal desideratum, preparamos o seguinte roteiro: conceito, conotações do termo “Evangelho”, Evangelho no contexto histórico, o Evangelho Segundo o Espiritismo e Evangelho e Educação.
Conceito
O uso freqüente de uma palavra pode provocar, com o tempo, a perda do seu significado original. Isto aconteceu com muitos de nós que dizemos e ouvimos pronunciar tantas vezes o termo “Evangelho”. De acordo com Battaglia em “Introdução aos Evangelhos”, o primeiro significado lembrado pelo som desta palavra é o de um livro, um dos quatro que foram legados pela era apostólica e que contém a vida e a doutrina de Jesus. A palavra “Evangelho” suscita em muitos cristãos uma vaga idéia de respeito e solenidade ligada à liturgia da Missa dominical, quando o som deste termo faz-nos ficar todos de pé para ouvi-lo devota e respeitosamente. Mas normalmente, tudo pára aí.
Evangelho é a tradução portuguesa da palavra grega Euangelion que foi notavelmente enriquecida de significados. Para os gregos mais antigos ela indicava a “gorjeta” que era dada a quem trazia uma boa notícia. Mais tarde passou a significar uma “boa-nova”, segundo a exata etimologia do termo.
Falava-se de “evangelho”, nas cidades gregas, quando ecoava a notícia de uma vitória militar, quando os arautos noticiavam o nascimento de um rei ou de um imperador. Ao termo estava unida a idéia de festa com cânticos, luzes e cerimônias festivas. Era, em suma, o anúncio da alegria, porque continha uma certeza de bem-estar, de paz e salvação. (1984, p. 19 e 20)
Conotações do termo “Evangelho”
- O Evangelho de Jesus – Deus, no Velho Testamento, havia comunicado os seus anúncios de alegria aos patriarcas, a Moisés e aos profetas do seu povo; no Novo Testamento, dá o maior dos “anúncios”, o anúncio de Jesus. Jesus não é só conteúdo do anúncio, mas é também o primeiro portador e arauto. Ele apresenta a si mesmo e a sua obra como o “Evangelho de Deus”, isto é, a “boa-nova” que Deus envia ao mundo que espera. (Battaglia, 1984, p. 21 e 22)
- O Evangelho dos Apóstolos – Desde o momento da ascensão de Jesus, a palavra “Evangelho” designou a pregação oral dos apóstolos, pregação que tinha como argumento a pessoa e atividade de seu Mestre divino. (Battaglia, 1984, p. 23)
- Os Quatro Evangelhos – Desde os primeiros anos do cristianismo preferiu-se falar de “Evangelho”, no singular, também quando se referia aos livros. isto porque os escritos dos apóstolos traziam todos o mesmo e idêntico “alegre anúncio” proclamado por Jesus e difundido oralmente. Quando se desejou, porém, indicar de maneira específica cada um dos quatro livros, encontrou-se uma fórmula particularmente eficaz e significativa: “Evangelho Segundo Lucas”, “Evangelho Segundo Mateus”, “Evangelho Segundo Marcos” e “Evangelho Segundo João”. Desse momento em diante, o singular e o plural se alternam para indicar, um a identidade do anúncio, o outro a diversidade de forma e redação. Ficará, porém, sempre viva a convicção de que o Evangelho é um só: o alegre anúncio de Jesus. (Battaglia, 1984, p. 25 e 26)
- O Quinto Evangelho – Os Atos dos Apóstolos e as Cartas Apostólicas dispostos cronologicamente formariam um quinto evangelho. O Nascimento de Jesus, por exemplo, poderia ser encontrado em Gl 4,4; Rm 1,4; At 3, 18-24; At 1,14. Sua atividade missionária em At 10,36; At 2,22; At 1,13; At 1, 21-22; 2 Pd 1, 16-18; 1 Jo 1, 1-3. Este mesmo exercício poderia ser feito com relação às condições de sua vida, o início da vida pública, a última ceia, a traição de Judas etc. (Battaglia, 1984, p. 32 a 36)
- Evangelhos Apócrifos – Muitas informações acerca de Jesus estão arroladas nos Evangelhos apócrifos (escondidos) e nas ágrafas (ensino oral).
Contexto histórico do Evangelho – Ambiente político-religioso
O povo judeu, ao qual Jesus e os apóstolos pertenciam fazia parte do grande império romano que estendia as asas das suas águias do Atlântico ao Índico.
O jugo romano, porém, pesava de modo especial sobre a Palestina ao contrário dos outros povos. O poder político-religioso na Palestina, naquela época, era exercido pelo procurador romano, pelo sumo sacerdote e pelo senado judeu.
O procurador romano era, sobretudo, um chefe militar, encarregado de vigiar, com 3.000 homens à sua disposição. Competia-lhe cobrar os tributos a serem enviados ao erário imperial. Administrava a justiça só nos casos em que era prevista a pena de morte, pena que o tribunal ordinário do sinédrio, ou os tribunais locais das várias regiões e cidades não podiam executar.
Por esse motivo Jesus, embora tivesse sido condenado à morte pelo sinédrio, teve de comparecer diante de Pilatos para responder por delito capital.
O sumo sacerdote era assistido, no governo político e religioso da nação, por uma espécie de senado judeu, o sinédrio. Pertenciam ao sinédrio três categorias de pessoas:
1. “príncipes dos sacerdotes” (chefes das famílias e das classes sacerdotais e os sumos sacerdotes depostos do cargo)
2. ”anciãos” (membros das famílias nobres e ricas de Jerusalém).
3. “escribas” ou “doutores da lei” (mestres judeus peritos na Lei e na tradição). Todos esses membros pertenciam às duas seitas principais do judaísmo: a dos saduceus e a dos fariseus. (Battaglia, 1984, p. 105 a 107)
O Judaísmo Palestinense no tempo de Jesus
O ambiente histórico-religioso em que o Evangelho nasceu é o do judaísmo formado e alimentado pelos livros sacros do Antigo Testamento, condicionado pelos acontecimentos históricos, pelas instituições nas quais se encontrou inserido e pelas correntes religiosas que o especificaram.
Embora o cristianismo seja uma religião revelada, diferente da judaica, apareceu historicamente como continuação e aperfeiçoamento da revelação dada por Deus ao povo de Israel. Jesus era um judeu, que nasceu e viveu na Palestina. Os apóstolos eram todos da sua gente e da sua religião.
Por isso, nos Evangelhos encontramos descrições, alusões e referências a pessoas, instituições, idéias e práticas religiosas do ambiente judaico, frente às quais Jesus e os apóstolos tomaram posição, aceitando-as ou rejeitando-as. (Battaglia, 1984, p. 118)
De Cristo a Kardec
A divulgação do Evangelho, desde as suas primeiras manifestações, não foi tarefa fácil. A começar pela construção desses conhecimentos – realizada sob um clima de opressão –, pois o jugo romano, como vimos anteriormente, pesava de maneira especial sobre a Palestina. As mortes dos primeiros cristãos nos circos romanos, ainda ecoa de maneira indelével em nossos ouvidos. Além disso, tivemos que assistir à ingerência política em muitas questões de conteúdo estritamente religioso. Fomos desfigurando o cristianismo do Cristo para aceitarmos o cristianismo dos vigários, como disse o “padre Alta”. A fé, o principal alimento da alma, torna-se dogmática nas mãos de políticos e religiosos inescrupulosos. Para ganhar os Céus, tínhamos que confessar as nossas culpas, pagar as indulgências e obedecermos aos inúmeros dogmas criados pela Igreja. É dentro desse quadro de fé dogmática que surge o Espiritismo, dando à fé uma direção racional, no sentido de iluminar a vida espiritual de toda a humanidade.
Kardec e o Evangelho Segundo o Espiritismo
O Evangelho Segundo o Espiritismo é o 3º Livro da Codificação. “O Livro dos Espíritos” surgiu em 18/04/1857, seguido pelo “O Livro dos Médiuns”, em 1861. Somente em 1864 Kardec publicou “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Isso para não chocar a crença católica da penas eternas.
Allan Kardec na Introdução de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” diz que as matérias contidas nos Evangelhos podem ser divididas em cinco partes: 1ª) os atos comuns da vida de Cristo, 2ª) os milagres, 3ª) as profecias, 4ª) as palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja 5ª) e o ensinamento moral. Se as quatro primeiras partes foram objeto de controvérsia, a última manteve-se inatacável. Este é o terreno onde todas as crenças podem se reencontrar, porque não é motivo de disputas, mas sim regras de conduta abrangendo todas as circunstâncias da vida, pública e privada.
Kardec, para evitar os inconvenientes da interpretação, reuniu nesta obra os artigos que podem constituir, propriamente falando, um código de moral universal, sem distinção de Culto. Nas citações conservou tudo o que era útil ao desenvolvimento do pensamento, não eliminando senão as coisas estranhas ao assunto. Como complemento de cada preceito, ajuntou algumas instruções escolhidas entre as que foram ditadas pelos Espíritos em diversos países, e por intermédio de diferentes médiuns.
Cabe lembrar que o Espiritismo não tem nacionalidade, está fora de todos os Cultos particulares e não foi imposto por nenhuma classe social, uma vez que cada um pode receber instruções de seus parentes e de seus amigos de além-túmulo. Ele veio dar uma nova luz à moral do Cristo. (1984, p. 8 a 12)
Evangelho e educação
No âmbito da Umbanda, o Evangelho deixou de ser apenas a fonte de meditação e oração para a ligação do homem com um Deus antropomórfico, no insulamento, para transformar-se num instrumento de aperfeiçoamento do indivíduo, de renovação íntima constante e continuada; de adequação, adaptação à vida, no torvelinho de suas modalidades, na incessante variação de suas manifestações. Em síntese, o objetivo da Umbanda é transformar o Evangelho de crença em conhecimento – conhecimento das leis que governam o Espírito.
Com o Evangelho, a idéia de Educação se transforma. Ela continua sendo a transmissão de cultura de uma geração a outra, mas com a finalidade de estimular a criatividade, de adaptar o indivíduo à vida, de conduzi-lo à integração na sociedade, através do trabalho produtivo, das realizações conjuntas, de forma ordenada e pacífica. (Curti, 1983, p. 85 a 87)
A vinda do Mestre modificou o cenário do mundo. Emmanuel em “Roteiro” diz-nos que antes de Cristo, a educação demorava-se em lamentável pobreza, o cativeiro era consagrado por lei, a mulher aviltada qual alimária, os pais podiam vender os filhos etc. Com Jesus, entretanto, começa uma era nova para o sentimento. Iluminados pela Divina influência, os discípulos do Mestre consagram-se ao serviço dos semelhantes; Simão Pedro e os companheiros dedicam-se aos doentes e infortunados; instituem-se casas de socorro para os necessitados e escolas de evangelização para o Espírito popular etc. (Xavier, 1980, cap. 21)
Emmanuel diz ainda que “O Evangelho do Divino Mestre ainda encontrará, por algum tempo, a resistência das trevas. A má-fé, a ignorância, a simonia, o império da força conspirarão contra ele, mas tempo virá em que a sua ascendência será reconhecida. Nos dias de flagelo e de provações coletivas, é para a sua luz eterna que a Humanidade se voltará, tomada de esperança”. (Xavier, 1981, p. 28)
Conclusão
O Evangelho (segundo o Espiritismo) deixa de ser fonte de meditação e oração e passa a ser um instrumento de aperfeiçoamento do indivíduo.
O Evangelho (segundo o Espiritismo) deixa de ser fonte de meditação e oração e passa a ser um instrumento de aperfeiçoamento do indivíduo.
É um guia insubstituível para a adaptação do homem às crescentes formas de vida. Refletindo sobre os seus conteúdos morais, o homem começa a evangelizar-se, ou seja, começa a criar novos hábitos e atitudes, a tornar operante a sua fé, a exercitar mais e mais vezes a paciência.
Adquire, assim, uma nova postura com relação à vida e ao seu próximo, porque aprendeu que o único evangelho vivo é aquele em que os outros o observam.
Irmãos umbandistas; não se esqueçam: Seguimos os Espíritos de Luz, seja onde for que se manifestem. Seguimos os conselhos e as orientações dos Espíritos de Luz, sejam eles Santos consagrados pelos católicos ou Espíritos que se manifestam no kardecismo. Onde se falar em Evangelho, pregando e seguindo a Nosso Senhor Jesus Cristo, aceitaremos sem restrições.
(Sérgio Biagi Gregório com adaptações de Pai Juruá)
Colocaremos a disposição de todos algumas obras importantes sobre o Evangelho, que deverão ser lidas, estudadas e praticadas, principalmente na prática do Evangelho no Lar.
“A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória, e quem colhe é Deus Pai Todo Poderoso” – Jesus
Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém chega ao Pai, a não ser através de mim” –
Esta tudo aí. Mãos a obra.
“Ide e pregai o Evangelho por todo o mundo, para o testemunho de todas as Nações”
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