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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Umbandista e a Vaidade



A falta de união entre os terreiros de Umbanda está relacionada à vaidade e ao egocentrismo de determinados dirigentes umbandistas. A vaidade é como um veneno que contamina a alma do indivíduo. É um entorpecente letal que, se não for cuidado em tempo, levará o sujeito a um desfecho completamente irreversível. Essa mesma vaidade é ainda um mal que destrói a verdadeira missão da Umbanda: a Caridade!

Normalmente, a vaidade começa com um pequeno elogio: "Nossa, Fulano trabalha bem naquele terreiro!" ou " Fulano tem um 'Guia' muito forti..."

Enquanto elogios desse tipo não chegam aos ouvidos do Fulano, tudo anda bem. Porém, a coisa começa a degringolar quando tais palavras alcançam o desavisado. É realmente um veneno, mas só se o alvo deixar entrar em sua corrente sanguínea. Aí, não tem jeito...

O Fulano, movido pela vaidade, passa a se achar o bambambam da Religião. Acredita que só ele é quem detém as chaves dos mistérios umbandistas. Só ele tem a melhor incorporação: a mais forti. Pensa que só o seu cabocro é quem tem o poder de desfazer todas as demandas; só o seu inxum é quem é o Cabra mais poderoso; só o seu preto-velho é o mais iluminado. Tudo isso toma uma proporção maior ainda quando o Fulano é o "dono" do Terreiro onde ele diz que pratica a Caridade.

Contaminado pelo veneno da vaidade, o Fulano passa a desfazer dos outros "terreirinhos" ao redor. Acredita que só o dele é que tem os verdadeiros e únicos fundamentos da Religião; só o dele é que segue o verdadeiro ritual; só o dele é que tem a raiz mais profunda; só os seus antepassados é que praticavam a "verdadeira" Umbanda... Tudo isso é triste... Mas, aliado à vaidade, surge o egocentrismo de certos dirigentes.

Do alto do ilusório pedestal, o Fulano passa a ser o Senhor das Duas Torres (acho que já vi esse filme...): a vaidade e o orgulho! O Terreiro passa a ser uma extensão de si mesmo. Toda a sua vaidade e o seu ego inchado refletem no terreiro que ele comanda... O ritual já não tem a simplicidade do início. Suas vestes já não são mais tão simples como quando despertou o primeiro amor pela religião... Até os médiuns mais novos alimentam um certo orgulho de pertencerem ao "melhor" centro de Umbanda. Já não vêem com bons olhos os trabalhos realizados pelos mesmos Guias de sua casa no Terreiro vizinho. Acreditam que os médiuns do terreirinho da esquina estão mistificando e que os Guias de lá, não são Guias.

Egocêntrico, vaidoso e cada vez mais alienado das novidades da Religião e do crescimento de outras casas, o Fulano embebeda a todos com sua filosofia sem fundamentos do que é a verdadeira Umbanda... Despeja uma infinidade de pedras nas casas alheias; passa a criticar as atitudes dos outros pais de santo, dos outros chefes de terreiro; diminui o trabalho dos novos umbandistas (ainda mais se esses abrem um novo terreiro para a prática simples da caridade...); inicia a apresentação de um ritual rebuscado, cheio de inovações, poluído de mundanismo; ofuscante de tanto brilho e de tanta pompa.

Ora, se tais desvios de comportamento e de conduta ficassem restritos ao seu terreiro, seria bom... O problema fica pior quando o terreirinho da esquina, aquele que foi tão humilhado e execrado, aquele que conservava uma simplicidade sem par, o mesmo que era tão humilde e simples, se envereda pelo mesmo caminho do "Majestoso" e passa a disputar as atenções do público...

Bem, não é necessário enumerar e explanar sobre as mesmas atitudes do outro terreiro. Todas os atos e pensamentos são idênticos! Como se esse estivesse contaminado pelo mesmo vírus, ou pelo mesmo veneno. Seria redundância falar sobre o que o agora nada-humilde terreiro faz "em nome da caridade".

A união é impossível diante de quadros como esses...

Como unir dois potentes vaidosos e egocêntricos? Quem brilhará mais? Qual dos dois irá deter o título de "melhor"? Qual deles tem a raiz da Umbanda?

Onde houver vaidade, não subsistirá a Caridade.

Por Julio Cezar Gomes Pinto

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“Aquilo que é impenetrável para nós existe de fato. Por trás dos segredos da natureza há algo sutil, intangível e inexplicável. A veneração a essa força que está além de tudo o que podemos compreender é a minha religião.”

Albert Einstein.

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